25 de agosto de 2007

A Magia das Interfaces que Conversam

Veja o que pensa o Ricardo Martins, consultor em design e usabilidade . Trabalhamos juntos deste 2000 na Gazeta Mercantil e continumaos juntos em novos desafios na Dufry e na Brasif.O Ricardo traz sempre ideias inovadoras acima de tudo pela sua visao centrada na experiencia do usuario.
Ultimamente o usuário tem ocupado cada vez mais o centro das atenções na Internet. Estudos de mídia online, usabilidade centrada no usuário, mídia gerada pelo consumidor, comportamento das comunidades, conteúdo criado pelos internautas, Web 2.0, enfim, são vários os pontos de interesse nessa figura que antes era apenas vista como um detalhe perto da estrela emergente, chamada de “grande rede de computadores”. Só que no começo nem todos se lembravam que na frente de cada computador poderia haver um ser humano, com interesses únicos e individuais.
A partir de então, o usuário começou a ganhar cada vez mais importância, com direito a defensores dos seus interesses, empresas que procuravam escutar seus anseios e levar em conta suas necessidades. No entanto, o interesse no usuário/ser humano pode ser algo novo na Internet, mas não é fora dela.
Diferentes áreas do conhecimento como antropologia, ergonomia, psicologia, semiótica e retórica já tinham percebido que o ser humano é fator central em qualquer atividade, pois o resultado final de tudo que o homem faz é voltado para ele, ou seja, o fim de toda atividade é transformar o próprio homem.
· No caso da antropologia, desde a antigüidade clássica, os gregos já refletiam sobre o papel do homem e utilizavam a “medida humana” como centro de discussão acerca do mundo. Isso demonstrava uma preocupação antropológica, ou seja, procurava um conhecimento completo sobre o homem, suas produções e seu comportamento.
· A ergonomia desde 1700 d.C. (com os estudos de Bernardino Ramazzini) já se voltava para o homem como objeto de estudo, visando projetar sistemas, tarefas, produtos, ambientes e trabalhos que fossem compatíveis com as suas necessidades, habilidades e limitações, razão pela qual a ergonomia também é chamada nos EUA de “fatores humanos”.
· A psicologia também estuda os processos mentais e o comportamento humano e animal. Em 1879, Wilhelm Wundt já praticava a psicologia separadamente da filosofia, na Universidade de Leipzig (Alemanha), trazendo à tona as questões sobre a relação do ser humano com o ambiente e consigo mesmo.
· Assim como a psicologia, a semiótica encara o ser humano como ponto central do seu estudo, na medida em que ele age como o interpretante dos signos, atribuindo significados que são únicos e particulares para cada indivíduo. Ou seja, nunca há dois significados iguais, pois não há dois seres humanos iguais. E o ato semiótico pode ser considerado tão antigo quanto a existência do ser humano, desde o Gênesis bíblico, quando "Tendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos, e todas as aves dos céus, levou-os ao homem, para ver como ele os havia de chamar; e todo o nome que o homem pôs aos animais vivos, esse é o seu verdadeiro nome. O homem pôs nomes a todos os animais, a todas as aves dos céus e a todos os animais dos campos...". Coube ao homem dar significado ao que o cercava, pois seria o próprio homem que iria desfrutar dele.
· Por fim, o grego Aristóteles, quase 400 anos antes de Cristo, já dizia que a expectativa emocional do ser humano, junto com a credibilidade do orador e a qualidade da sua mensagem, eram essenciais na arte do convencimento ou retórica. Novamente, não tem como se falar de persuasão sem levar em conta as características únicas que cada ser humano possui e como ele contribui para o desfecho final do que é dito no discurso.
Portanto, quem deseja tirar proveito do que a Internet oferece em termos de potencialidades faria bem em aprender com essas ciências que há séculos analisam o comportamento humano, o modo como nós interagimos com o ambiente e dele extraímos significado.

2 comentários:

Adéle Malta Pontes disse...

A Visão dada pelo consultor Ricardo Martins é de extrema importância para quem deseja entender seus usuários e desenvolver seus projetos de interface realmente centrados nesses usuários. No entanto vale lembrar, que não é preciso ser especialista nas ciências mencionadas, pois vários pesquisadores já estudaram essas ciências e desenvolveram teorias e métodos especificamente voltados à aplicação para o projeto e avaliação de interfaces com o usuário. Podemos citar como exemplos, a Engenharia Cognitiva que é uma abordagem com base na psicologia cognitiva e a Engenharia Semiótica, uma teoria totalmente calcada nos conceitos da Semiótica de Peirce e ECO.

Bem, esse foi apenas um comentário. Tentarei dar uma idéia mais ampla dessas abordagens em uma postagem posterior.

Ricardo Martins disse...

Olá Adéle,

Foi muito pertinente seu comentário e concordo que hoje não é preciso ser um semioticista ou um antropólogo para fazer um site que leve o usuário em consideração.

Cabe lembrar que o ponto central do meu post é que o movimento user-centered, que busca dar mais ênfase aos interesses dos usuários, está defasado quando comparado com os esforços dedicados por outras áreas do conhecimento no estudo das necessidades humanas.